LUCA SILVEIRA
Um novo relatório do Instituto V-Dem, ligado à Universidade de Gotemburgo, na Suécia, aponta que, pela primeira vez em anos, as autocracias ultrapassaram as democracias no mundo. Ao final de 2024, 91 países eram governados sob regimes autocráticos, enquanto 88 eram considerados democracias – uma inversão em relação ao ano anterior.
Segundo o estudo, 72% da população mundial, cerca de 5,8 bilhões de pessoas, vivem sob regimes autoritários, o maior número desde 1978. A pesquisa abrangeu 179 países e classificou como autocracia os sistemas em que o poder é concentrado em um indivíduo ou grupo, com limitações severas às liberdades civis e políticas. Já as democracias foram definidas por eleições justas, liberdade de expressão e imprensa, proteção dos direitos civis e controle institucional sobre o Executivo.
A maior parte das autocracias está localizada no Oriente Médio, África, Ásia Central e do Sul. As democracias predominam na Europa Ocidental, América do Norte e algumas regiões do Leste Asiático, Europa Oriental e América do Sul.
O relatório também destaca a desinformação e a polarização política como ameaças crescentes à estabilidade democrática. A desinformação é usada por governos autoritários para gerar medo e desconfiança, enquanto a polarização extrema fragiliza o compromisso com os princípios democráticos. Exemplos citados incluem o referendo do Brexit e a eleição presidencial de 2016 nos EUA.
Em 2024, nove países apresentaram aumento significativo na polarização política. O caso dos Estados Unidos é mencionado como preocupante, com uma eleição marcada por tensão e divisão. O relatório alerta que os dados ainda não refletem totalmente os impactos mais recentes no país.
Outro ponto crítico foi a violência associada a processos eleitorais. Em 14 das 61 eleições realizadas no ano, houve aumento de episódios violentos. O México, por exemplo, viveu sua eleição mais violenta em décadas, com dezenas de candidatos assassinados. Também ocorreram tentativas de atentado contra o primeiro-ministro da Eslováquia e o ex-presidente Donald Trump, então candidato à reeleição.
